ZÉLIA MARIA

Zélia Maria

POESIA_DE_FORTALEZA-POETA- ZÉLIA MARIA

Nome: Zélia Maria 

Biografia:

Zélia Sales É Cearense de Itapajé. Graduada em Letras (UECE) e especialista em Investigação Literária (UFC). Professora da rede pública, onde desenvolve projetos voltados para a formação de leitores. Teve seus trabalhos publicados em várias edições do Prêmio Ideal Clube de Literatura, com Menção Honrosa em duas delas; em 2016 seu trabalho foi selecionado no Concurso Sesc de Contos – unidade Crato; em 2017 participou da coletânea Cartografia da palavra livre. Tem dois livros publicados no gênero conto: A cadeira de barbeiro (2015) e O desespero do sangue (2018). Em 2019 participou da antologia Relicário, que reúne contos de escritores cearenses, dentro do projeto Letras&Livros, organizado pelo jornal O Povo. É membro da Associação Cearense de Escritores – ACE

Poesias

Educação Alimentar

 

Na casa de minha infância todo dia tabefe no almoço cascudo no jantar
Entre uma e outra refeição apelido careta beliscão
Todo dia
De fome ali ninguém morria.

Guida

Sempre foi uma florzinha perdida.
Encontrada, se doava em qualquer pé de muro
qualquer racha de calçada sem rega, sem adubo, sem carinho.
Desmiolada, despetalada amarga vida, magra vida Margarida.

Paisagem vertical

No fundo do estômago a fome fez seu buraco,
no fundo da rede a miséria o seu abriu e o menino caiu
inerme no chão da alcova onde o esperava
alerta de boca aberta a cova.

Poema para uma bela infanta

Pela memória de Lizandra
No jogo da amarelinha
as pedras rolam para o fim da linha um… dois… três
se pisar fora perde a vez
quatro… cinco… dez meninas
amarelas de medo logo chegam ao céu.

As gangues brincam de pega-pega
o poder público de cabra-cega
Bala perdida, menina perdida, sonho perdido.

Adeus sonhos não sonhados
adeus roda de amigos, adeus croppeds coloridos
super tendência na José Avelino.
Adeus batom mate da Avon,
o sorriso preso nos brackets na última selfie.

É a vez de a polícia procurar pique
um, dois, três, onde estão as meninas?
No Parque Potira , no Parque Manibura, no Parque Dois Irmãos, no Parque da Saudade ,no Parque da Paz.
Flores mortas-sempre-vivas
jazem no Jardim Guanabara, Jardim Iracema, Bom Jardim Jardim do Éden.
Um… dois… três
Vamos contar outra vez, todo mundo no meio da rua
a brincadeira continua.

Praia de Iracema

Não faz muito tempo
Eu rimava manhã com Aquidabã.

O mar nos trazia jangadas
“pintadas de verde e encarnado”
eu,
menina, recitava o mais novo poema do Ednardo.

A igrejinha de São Pedro
tinha dimensões de catedral mas era
quase a extensão do meu quintal.

Os bons ventos nos levavam ao Cirandinha,
ao Nick Bar, ao Cais Bar, onde se servia um “Pedacinho do céu” logo ali.
O mar fingindo revolta se esboroava sobre as pedras tudo era
música aos meus ouvidos.

Tudo tão perto, tudo tão longe…