TETÊ MACAMBIRA

Alan Mendonça

Nome : Tetê Macambira

Biografia :

Foi a alcunha ganha no primeiro grupo de teatro do colégio, ainda em Belém do Pará. E esse nome marcou a poetisa que iniciou tentando construir sonetos e poemas ao estilo dos poetas românticos, aos 13 anos. Desistiu da formalidade poética aos 15 anos, quando se abraçou à poesia livre em “Canção Suada”. Aos 16, organizou no colégio a I Mostra de Poesia, em que apresentou “Dá a metade”, poesia social. Em solo alencarino, participou do grupo Eu com Verso, leu publicamente pela primeira vez na Feira do Jiriquiti, no IFCE (então CEFET). Criou a consoria de récitas e etcetera Casa de Bonecas, em busca do protagonismo feminino nas artes, montou com a parceira musical Gleucimar Rocha o recital “Bobices”, organizou o sarau itinerante coletivo Poesia de Leve e o Poetas de Cidade, participou das antologias “Pindaíba” e “100 sonetos de 100 poetas”, mantém o blogueho mônimo e lançou dois Zinedine autorais, “Absinto – dose verde” e “Leve Lassidão “. Atualmente,
tem-se dedicado ao tema necessário do Amor, em um tríptico de saraus-show: “borboletas cantando no estômago” apresentado ano passado e o em ensaio “o sol está solto em você “, e o ainda em estado embrionário, “taxidermia do amor”.

Poesias

Noite quente. coral entomológico repete:
– Terezzzziiiiiiiiinha…
– Terezziiiiiiiiiiiinha…
– Terezziiiiiiiiiiiiiiinha…
– Terezziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinha…
– Terezziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinha…
então entoa barigui birigui bererê bemb
é carapanã catuqui catuquim tatuquira
maruí meruí fincão fincudo borrachudo
bicuda muriçoca muruçoca meruçoca
maruim meruim miruim muruim
maringui maringuim carapanã-pinima
pernilongo pernilongo-rajado (Aedes aegypti)
mosquito-palha mosquito-prego mosquito-pólvora
mosquito-do-mangue – mosquito, simplesmente.
– Flebótomo! – generaliza corretamente meu amigo biólogo
(mas vá dar confiança a flebotomologistas!)
resignadamente, pois, agradeço gentil ao coro noturno
aclamando palmas abertas espalmadas palmas
abertas constantes palmas abatem um coralista…
aaahhh…. peninha…
(e um sorriso satisfeito se me alarga descarado).

PAIXOECTOMIA

– Doutor, onde que fica a paixão?
– Paixão?!
– É! onde que fica?
– Ah! no coração.
– Então, doutor, me troque o coração por um monte de
válvulas funcionais, por favor!
– Mas…
– AGORA.
– Doutor… , o senhor extirpou mesmo mesmo meu coração?
– Sim.
– Mas ainda estou me apaixonando!
– É… é porque o coração sente o que os olhos veem.
– OK. Então, retire meus olhos e implante sensores de
luz.
– Mas…
– AGORA!
– Doutor…, o senhor extirpou mesmo meu coração e
meus olhos?
– Sim.
– Mas ainda estou me apaixonando!
– É.. é porque o coração sente o que os olhos veem depois que o cérebro registra.
– OK. Então, retire meu cérebro e implante um computador.
– Mas…
– AGORA!
– Doutor…, o senhor extirpou mesmo meu coração, meus
olhos e meu cérebro?
– Sim.
– Mas ainda estou me apaixonando!
– É… é porque o coração sente o que os olhos veem depois que o cérebro registra o que se tem na alma.
– OK. Então retire minha alma e implante…. O que que se
implanta no lugar da alma?
– Não há como nem retirar a alma e muito menos o que a
substitua.
– ….!!!!

MEU DOCE AMARGO

Meu moço é um doce de pessoa
mas só quem se aproxima sabe-lhe o amargo
Meu moço me comove feito o quê
trazendo-me uma rosa bem rosinha
da qual ele tirou espinhos todos
(e o band-aid no dedo dele me dói sob o olhar)
Meu moço é um doce de pessoa
que se sorri a todos na. rua
e esconde a lágrima presa no cílio em meu colo
– a amargura líquida da lágrima pesa no meu peito
(e ele logo enxuga e sorri-me, vexado)
Meu moço é um doce de pessoa
que aguenta calado as porradas
que sofre quieto o amargo sangue das suas feridas
(cicatrizes bem escondidas sob roupas,
mal percebidas na meia-luz de meu quarto)
Meu moço era um doce de pessoa
que o amargo nó do baraço levou toda doçura
(e eu choro por não ter feito nada
que lhe suportasse o sobreviver)
Meu moço era um doce de pessoa
que a amargura dos outros destruiu
e agora é tarde para se arrepender
de nada ter feito;
fui-lhe insossa; nem amarga nem doce.

EXPERIMENTOS DE MAFUÁ DO MALUNGO 
– Qual sua palavra preferida?
: foi a pergunta provocação
lançada na rede social.
E sem saber do experimento, amigos responderam
e respondi-lhes com versos circunstanciais
(imitação de Bandeira via Mafuá do Malungo)
usando nome da pessoa e a palavra favorita dela.
Renderam dez filhotinhos esganiçados
(mas tem uns até bonitinhos!)
bicando palavras e esgoelando sentimentos.

a.
Sabe saudades de quem nunca se viu?
sabe saudade do que nunca se teve?
o 3×4 virtual do perfil não me define
o 3×4 virtual do perfil não te define
mesmo assim
mesmo assim
Tetê vê moço Lourão
Lourão vê sapeca Tetê
temerosos,
tateantes,
66 TETÊ Macambira
reconhecem-se…
e um longo e cheio de saudades de um ABRAÇO!

b.

nas nuvens de algodão
flutuam pensamentos repartidos
máscaras de ilusão caem dos rostos
veem-se espinhas e rugas
mas Rafaelle olha
em-pe-der-ni-da-men-te
e me diz, toda linda:
– Vamos viajar?
(e eu viajo no sorriso dessa moça)

c.
– Um abraço, moço, é de grátis!
E Anderson deixou-se abraçar pela palhaça triste na praça.
Mal sabia esse moço que o abraço era grátis, sim,
mas era mais dele para ela.
Porque quem se doa é quem menos precisa.
E Anderson tem coração assim: de se dar,
todo grátis,
todo ele,
todo momento.
Para depois de guardar para si.
Grátis: um sorriso e um aceno.

d.
Tu sabes por que Mere é amável?
porque é do tipo que cuida
e quem cuida, saiba, é quem pensa em.
E todo mundo sabe que quem pensa em
é porque ama.
Mere – amável porque pensa no outro.
Moça, eu te cuido estes versos de ternura.

e.
O conhecimento da vida,
o conhecimento do outro,
o conhecimento do lugar,
o conhecimento do mundo –
Ricardo buscava conhecer o conhecimento,
parte por parte, passo a passo,
mas o mais importante de tudo:
que nesse processo investigativo
ele busca o autoconhecimento.

f.
David acordou plena quarta-feira já madrugando
e estabelecia um diálogo dele com seu super ego
quando o Id, de penetra, infiltrou-se na conversa.
David acha que foi um dos dias mais produtivos:
quando ele, aparentemente sozinho,
transformou um diálogo em uma mesa redonda
com ele e seus substratos (por enquanto) homônimos.

g.
menina chorando,
sorriso de Stefane –
sorriso cansado mas bravio
mulher infatigável em seu cotidiano
(adoraria uma folga, mas… folga só!
para sentir mais saudade de sua própria vida
construída com garra e sorrisos)
porque Stefane é desse jeito, sabem?
mulher que se constrói e reconstrói mundos

h.
Lee sorvia lenta e suavemente seu drink azul
seu jeans rasgava no meio do caminho
uma mão ébria verificava rasgo
– ops! desculpas… não queria rasgar mais
o beijo azul era por causa dos drinks
mas o desejo rosa, reflexo dos cabelos
– e o sol adormecia em carmins lençóis.

i.

Brasil era pai e filho de si mesmo
mostrava cara e tacava peito
ofereciam-lhe cubanos
mas ele, rindo de malícia,
queria saber mais dos cubanos
e de seu povo e de sua luta
que somente dos mais finos charutos
– porque Brasil admirava, de longe, os cubanos.
ai, ai… quem dera…

j.
Sovina de souvenirs
ela guardava ciosa e secretamente
seus mais doces souvenirs
bem longe das formigas cortadeiras
tinha medo que lhe dilacerassem os doces
– e cada doce souvenir tinha, na canastrinha,
um rosto, um nome, um perfume e um momento
cristalizados na memória de maninha Brenna.
Porque ela é dessas!: de guardar momentos
com zelo e bons tratos os doces instantes vividos;
seus doces souvenirs.

k.
Quando moça Kácia está bem, feliz, tranquila
uma coisa eu te digo, seu moço,
não é excesso de amor,
não é tese concluída e entregue,
nem Brasil com justiça;
mas boleto pago foi o ansiolítico usado!

l.
Suely precisa de quê?
comida mas não tão somente
comida de se comer
mas comida de se sentir
comida de se saber
comida de alimentar alma
comida de alimentar coração
– óbvio que junto com um bom prato!

m.
Herlane é moça de pegar onda
(às vezes tira onda),
de encarar tubos de mar
de imitar Jesus sobre águas
de sorriso de algas
de olhar de raio refletido sobre mar
Herlane Jeane: moça de amar mar.

n.
João Paulo caiu
não no roto
mas no gosto
gosto musical bom
que caiu bem no meu coração.

SOU MAIS LUA QUE SOL

Mais fácil lua que sol
Sol incendeia esmorecer
Lua afaga terna e cúmplice
: mas mais fácil nem é melhor.
Acordo à noite.
Sol ensona-me.
Lua, insônia.
Tem mais jeito nem!
Sou mais de lua que de sol.
Sem mentira nem perfídia.
Apenas charme e preguiça.
Dobrar esquina num sorriso.
Licença.