27 nov SÉRGIO BARBOSA
Sérgio Barbosa
Nome: Sergio Barbosa
Biografia:
Sérgio Barbosa Alves nasceu no Rio de Janeiro/RJ (1970), mas reside em Fortaleza há quarenta anos. Casado, três filhos. Professor efetivo de matemática na Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC/CE). Bacharel em Ciências Contábeis, licenciado em Matemática e especialista em Coordenação Pedagógica. Premiações: Editora Vivara – Concurso Nacional Novos Poetas, (2016); Prêmio Ideal Clube de Literatura – XVIII Prêmio Barros Pinho (2016) e XX Prêmio José Telles (2018), este último conquistando o 1o lugar. Tem, como precursores artísticos, os escritores Carlos Drummond de Andrade e Pablo Neruda. Adota como seu pseudônimo a alcunha de Tolluca.
Poesias
ALMA EM BRANCO
Nenhuma poesia
Calmo desespero reunido na crisálida
Sangue azul reprimido na esferográfica
Rumores de asas e ritmos e sonhos
Atados em plumas e letras e cores
Montanhas e estrelas vazias de olhos
Elogios mortos na adolescência e medo
Nenhuma poesia.
Quem dera um poema surpreendesse agora
Essa plateia muda dos meus dedos longos
Um soneto que caminhasse um palmo de papel
Cobrindo a distância que vai do chão à rosa
Ou uma súbita fortuna de saudades fêmeas
Enchesse de ouros-versos minhas mãos mendigas
Nenhuma poesia.
Sujeito-me até as confidências piegas dos diários
Às cartas de amor perfumadas de libido
Aos favores das cortesãs de rimas fáceis
Que povoem esse salão branco de substantivos
Ai, quem me dera agora um beijo de amor escrito
Sem pretensões de namoro, matrimônio ou livro.
AMPULHETA
Às prostitutas
Fêmea do Tempo vil
Onde ele se chafurda Enquanto grão
Cintura de cálice servil.
Que o Tempo estrangula Submissão
Objeto de desejo
Vulcões almejados
Tempo de paixão
Seios de vidros fartos
Narcisos transparentes
Tempo de solidão.
E não possuis pés
Que fêmeas não caminham
Não sonham em vão
Apenas se deleitam
Sobre o vaidoso
Tempo Da ilusão.
Por fim
A gravidade termina
O Tempo foge
Último grão.
FÓSSIL DE JANELA ABERTA (Fotografia da Praia do Meireles, 1950)
Vejo Um navio de ferro
um frágil mar incolor
Já quase sem o cinza que foge
Qual perfume ordinário
Dos marinheiros repetidos
na praia da estação
Sinto Os castelos de areia
As donzelas da vez Ambos esperam a grande onda
Que vai durar uma vida inteira
Até caírem por terra
As torres e as honras
Ouço As vozes ilegíveis
Os transeuntes de papel
Não sobreviverão aos anos
Nem o rebanho de nuvens
Que de alvíssimas ovelhas
São amarelos fungos
Calculo o caminho percorrido
Por essa fotografia (fóssil de janela aberta)
O que moveu tal criatura
A fugir de tantas molduras
Para só dizer que ela veio
O navio de ferro, não.
MATRIMÔNIO
Essa dama possui o mesmo nome
Da esposa que um dia eu amei
Apesar do véu negro e espesso
Lembram muito os lábios que um dia beijei
E não obstante as luvas insensíveis
Recordam-me as mãos que um dia toquei
Os olhos lacrimejantes dessa senhora
São o retrato vivo daquele olhar que um dia fitei
Nosso matrimônio durou um longo dia
Mas quando veio a noite fria, ela faleceu
Então, a casa vazia, a rua sem número
A vida privada sem diálogo, sem conflito
Eu, desnecessário, resolvi também morrer
Uma morte óbvia, sem choro, sem litígio
Realmente essa madona de feições graves
Parece-me a mademoiselle que um dia casei
Mas, estranho… O que faz essa mulher de luto no meu funeral?
O PARQUE DO FIM DA VIDA
Aqui termina a montanha.
E toda a altura.
E toda a surpresa e números
Agora é a vez da ladeira.
De toda a pressa.
De toda a tristeza e gotas
Tudo que é construção vai se moldando em restos
Todo o fantástico se vulgariza e peca
O livro que eu não escrevi.
A mulher que eu não amei.
Todos ali guardados no futuro do pretérito dos sonhosMas me divirto vendo meus filhos, netos, bisnetos
Um formigueiro de almas levando folhas pro novo mundo
Chego, afinal, a minha última convicção – A vida é uma promessa,
que jamais se cumpre
Primeiro vão-se os beijos, depois o cio e enfim as mãos
Daí se enterra o olhar sob as palavras mudas da companheira
Súbito!… pulo do carrossel
Desço do horizonte com a sensação que foi pouco
E com a boca suja de sol, me revolto Solto-me das mãos da morte e corro pra vida, que grita:
– Na Roda Gigante Não entram maiores de noventa