21 set RÔMULO SILVA
Alan Mendonça

Nome : Rômulo silva
Biografia:
Nascido e criado no Pantanal (atual Planalto Ayrton Senna), periferia de Fortaleza (CE). É integrante do Laboratório de Estudos da Conflitualidade e Violência (COVIO/UECE), onde também coordena a linha de pesquisa “Estudos afro-atlânticos”. Pesquisador-colaborador do Laboratório de Arte Contemporânea (LAC/UFC). Tem interesses nas áreas da Sociologia da Literatura, Escrita, Performance e Oralidade; Sociologia da Ação Coletiva e dos Movimentos Contemporâneos de Juventudes, além dos Estudos Críticos à Colonialidade. Estuda a Poética da Mediação de Leituras na cidade de Fortaleza (CE). Mestre e doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia
(PPGS/UECE)
Instagram : @franromulosilva
Poesias
Fanons
A vida é um corre:
correria pelo pão,
pela con-si-de-ra-ção.
[considerar a ação – proceder]
entre os “becos” e os “asfaltos” das existências,
a fuga
a labuta, a luta, o luto
[que virou verbo-ação]
fazer cabana momentânea nas encruzilhadas das
sobrevivências.
ficar atento
desaparecer
simular. afirmar.
des-dizer.
existe um Corpo que sobra
este reconhece o Ser na medida que ultrapassa-o.
Barro-Preto
i.
eu nasci e comi
pau-à-pique, taipa
água de pote
caneca de alumínio.
ii.
pele-negra de meus avós
o cachimbo, o fumo mascado
o afeto-rastro-de-memórias.
iii.
vô-demétrio, preto-encurvado
pé-duro, chapéu-de-palha
chinelo-de-arrasto, poeira
sertão…
vó-maria-véia, índia-cabôca
o corte da foice-forte!
madeira, fogão à lenha
chibanca, saia rodada
pés-descalços
baião..
iv.
sou demétrio maria-véia
feito de barro, memórias
afetos e histórias
não sou o que me dizem que sou
me refiz!
parido da possibilidade,
ex escravo da Verdade.
Rastros-vestígios
I.
fazer cabana em encruzilhadas
[atento]
o canto embolado, cantiga.
a escrita-ensanguentada
[escrita-relato]
II.
o movimento é circular – em espiral invenção
no centro o teu cheiro-de-manjericão.
[rastros-vestígios-de-memórias de meus avós].
III.
fixamos para diluir, rasurar a escrita-branca a nosso
respeito.
tornamos pública nossa escrita-poética:
[Èsú: guardião-da-encruzilhada]
Cidade-chafariz
Helicópteros cortam o céu da minha cabeça, da minha
casa, da comunidade da partilha
com suas hélices, em looping
[estremece]
treme minha casa
estremece minha carne.
cães [co] respondem com latidos-chorosos, uivando
os cria copiam, não dormem.
e eu continuo querendo o [im] possível:
acolher e potencializar a minha própria medida diante
deste caos-mundo.
tem um chafariz e uma cacimba logo ali, gosto do som
que a chuva faz ao tocar as telhas: água não somente
para lavar o corpo, mas para regar as memórias afetivas.
um casal de rolinhas caldo-de-feijão insistem em fazer
um ninho aqui na área de casa. os pássaros dos quintais
vizinhos já voltaram a cantar…
Anfi-Teatro Jangurussu
O concreto também se dissolve
nos abraços demorados
na viagem sem malas prontas
no “corre do louco” – empregatício [in] visível
o preço do sangue que escorre arquibancadas
alimento pra cabeça mata a fome
[só por hoje] talvez, quem sabe…
ele pode ser a bela vista…
pode ser o nascer e o pôr-do-sol:
a soma dos abraços esperançosos,
do racha improvisado em círculos.
pode ser palco da noite ensolarada: razão dos
bailes autônomos.
“- Chega aê no rolezinho ou no reggae pra
dançar agarradinho.”
arena das resistências por vezes planejadas
dos sorrisos espontâneos
dos gestos aleatórios,
[in] definidos em si
da lágrima incontida e compartilhada
das memórias feitas do concreto dos afetos.
Jan [janelas] / gu [guris] / ru [rua] / ssu [suave]