PAULO RICARDO

Paulo Ricardo

POESIA_DE_FORTALEZA-POETA- PAULO RICARDO

Nome: Paulo Ricardo

Biografia:

Sem Biografia

Poesias

MURALHAS

De palavras em tijolos atirados e empilhados
Fez-se um muro cinza ocre, dividiu a minha vida
Numa floresta agridoce, numa mata perdida
No meio da floresta, abri os olhos no escuro
Para cima, nenhuma luz
Para os lados, apenas muro
Corri para a frente em minha velocidade máxima
E quão rápido cheguei no muro quando tropecei no nada
O muro correra mais que eu, me atropelando de palavras
E eu que queria gritar, tive a garganta soterrada
Nenhum som pude emitir
Sentindo minha vida se dividir
Em pedrinhas não preciosas
Em areia não colorida
Quão bobo eu era, pensando numa vida infinita
Quando construíram a muralha ao meu redor
Cercando a minha vida
Me fazendo pensar como sem rumo
Quando meu destino era ir para cima.
Apesar da escuridão,
Não era uma muralha cinza ocre
De palavras agressivas.

LIMITADO

Enclausurado pela cláusula do contrato
Que diz que não posso dizer o que sinto de fato
Claustrofóbico com o entalo da garganta
Segurando a força de todas minhas ações
Confinado num espaço grande demais
Para minhas ambições clichês
Com as minhas motivações cerceadas por uma lógica
Tão compreensível quanto o documento inexistente
Que segura meu corpo enquanto meus pés pendem sobre o chão.

MERGULHO

Aqui, com meus pés sobre a relva, ensaio meu discurso de palavras soltas
Praticando meu diálogo desconexo
Encaro o reflexo do meu rosto na água, iluminado pela soturna luz do luar
E movimento a boca e balbucio onomatopeias tentando traduzir minhas emoções
Questiono a fria brisa que seca o suor do meu pescoço porque é difícil expressar meu coração na fala
O assobio silencioso do vento na copa das árvores me responde completamente lacônico
Ainda estou atônito, assombrado pelos vultos que vi e vejo
A taquicardia que sinto faz pulsar os meus ouvidos e engulo em seco as palavras não ditas
Contrário a ânsia de vômito que tenho
A raiva que sinto vendo o reflexo com a boca que não se move
É substituída pelo espanto
A névoa me abraçou a força e bloqueou minha visão
Balbucio meus gemidos ao vento, para nenhum ouvinte específico
Eu eu sou obrigado a dançar com passos cuidadosos, porque a névoa me puxou para sua orquestra
E o maestro me exige o cuidado de caminhar em ovos
E os instrumentos que montam a melodia
tentam guiar meus tortos passos de dança,
mais desengonçados que meus monólogos estapafúrdios e confusos
Com a garganta pulsante de palavras não ditas, mexo meu corpo com a alegria de um funeral
A névoa se adensa e meu corpo pesa
O suor que a brisa secava não é nada agora, pois estou encharcado na água do lago
Meu reflexo sumiu
Eu vejo a luz da lua distorcida pela névoa
Afundo
Engasgo
As palavras agora descem empurradas pela água
Soterradas como minha dança, as palavras vão se perdendo
Eu esperneio buscando a lua, com barulhos tão ilógicos quanto minhas palavras ébrias
Meu olhar que busca o luar é barrado pela névoa
E eu acordo, desorientado.

INDEFINIDO

Palavras latejam na ponta da língua
Perdendo conceito e pedindo perdão
Não se sabe o que está perdido
Foram contados todos os dias em vão
Vai surgindo o dia depois da noite, e a noite depois do dia
Numa rotina excêntrica e imprevisível
Inconsolável, insaciável, aparentemente incontestável
A falta de termos não convém aos detentores de dicionários nem aos leitores assíduos
A ignorância não cai bem àqueles que sentem tudo que se pode sentir por outra pessoa
O desconhecido vocabulário não é capaz de definir o tamanho da indignação dos escritores de história
Quando fica estampado nas respostas alheias a impossibilidade de continuar uma narrativa
A catástrofe iminente não foi dita entre os interlocutores
-personagens de um texto potencialmente interrompido
E ramificações variáveis da história criam universos paralelos
Um mais indescritível do que outro
E a confusão por não se conhecer o assunto da prática realizada
faz calar as conversas sobre o elefante branco na sala
Alegorias, metáforas e onomatopeias não conseguem detalhar as
consequências da falta de certas letras
E a gramática dos seres viventes não permite explicar aquilo que
não é verbalizado, escrito, pintado, talhado ou gravado
E nem todas as pessoas conseguem viver as aventuras rotineiras de todos os dias
Quando todo dia
É indefinido.

SAUDAÇÃO

Sinuosa estrada de pensamentos esdrúxulos
Que entrega uma demanda suntuosa de minha sanidade
Não tenho tempo para percorrer todas as paradas e nem acenar para quem está do meu lado
O tempo entre um adeus e um olá é mais curto que o rangir dos meus dentes.
O tempo que levo traçar o percurso diário me trava a cabeça
Com os pensamentos num entrave, piloto uma mente submersa que finge saber nadar em águas desconhecidas
Travado o troço que chamo de cérebro,
Meus braços já não me obedecem como deveriam.
Me vem o modo de piloto automático, com pensamentos dramáticos.
As pernas bambeiam quando a mente tremula entre o “é” e o “seria”
O miocárdio suspira fundo com a possibilidade de trabalhar menos, mas o cérebro não o escuta e não me acalma.
Que digo com isso é que num pequeno caminho longo, cabeças rolam, explodem, amassam
Cabeças se perdem, como as saudações que eu dou para quem está na lateral da pista,
O Oi que digo agora não tem o mesmo peso do Oi que disse há horas atrás e demora menos da metade da primeira hora para que eu diga um tchau.
Então o monólogo dialógico que eu planejei no começo da viagem extensa diária mudou toda a sua forma, de início ao fim, marcando o pronunciamento de mais um talvez.