PAMELA NASCIMENTO

Pamela Nascimento

POESIA_DE_FORTALEZA-POETA- PAMELA DE NASCIMENTO

Nome: Pamela Nascimento 

Biografia:

Pamela Souto, 22 anos, nascida e crida no mesmo bairro de Fortaleza – CE, filha de pais que sempre incentivaram os estudos, e desde criança envolvida com artes e literatura. Hoje, produtora de O Corpo Sem Órgãos: Sarau-Rizoma, projeto que acontece na periferia do bairro do Conjunto Ceará, mesmo bairro no qual atualmente vive de juntar amigos, passantes e arte em um bar.  Atriz, Performer, Poeta e Artista que se apresenta nos palcos periféricos dos saraus de Fortaleza.  Também estudante de Geografia pela Universidade Federal do Ceará.

Poesias

Um Feminismo

Não é só por uma foda não consentida,
Não é só por ter que ir à pia,
Não é só por apanhar da vida.
A cada mana uma nova investida
Uma nova sangria.
Minha história se confunde a de tantas minas
Não é só por crer ser feminista, é por ser também Flávia, Lúcia e Melissa…
É só por ter buceta entre as pernas, seios e uma voz bonita
Igual Maria da Penha, igual Evarista
Que foi vista na TV esfaqueada pelo marido na frente da filha autista.
É por medo, é por revolta, é por ódio, é por vingança.
É por sentir a alma e o olho tremer de choro ao ver o pedido de socorro
silencioso de Krisnten com um bilhete escondido na mão da recepcionista.
É por não saber como lidar ao ver que um homem não se importa com um estupro na tv como eu me importo.
É por não se passar nem um dia sequer sem que a gente escute: morreu mais uma.
É também pelas piadas na rua, é também pelos olhares,
é também pelas roupas, é também pelas proibições
Mas é mesmo pelas mulheres todas.
Pelas Joanas que não escrevem, não leem, não assistem, nem gritam.
É porque A. N. S. M. e tantas outras que sentem o mesmo que eu.
Passaram por coisas piores que eu.
Estão escrevendo, gritando e mostrando que já basta disso tudo.
E ainda não é SÓ por isso…

Bastos José

Entre o inverno sagrado e o verão inebriante nascem vidas.
Vidas que podem começar a meio termo e terminar a meio copo, de barba no queixo e o cérebro entre as bolas.
Vidas que nascem a esmo e tornam-se uma eterna escola.
E entre vidas há outras vidas que sempre estão começando para terminar,
vidas que sem saber a quem, deve a vida emprestar.
Corações que batem por bater, e batidas que aceleram sem entender.
Pernas que caminham, e pernas que se abrem sem querer.
Há pernas, meus amigos, que escorrem leite e sangue,
e outras pernas que sustentam perigo constante.
Bocas que falam o que querem e podem,
bocas que sussurram por necessidade. Pés no salto, pés no asfalto.
E há tantos joelhos com tantas finalidades neste mundo
que ainda sobram joelhos a se curvar nos assaltos.
Existem tantas mãos a surrar e pegar e tantas mãos que imploram, que nem se acredita ter mãos que acolhem.
E por fim desta, desde que o mundo é mundo,
e as gentes são gentes, existem pinto e aranha, esta a nascer o
mundo, aquele a fuder com o mundo.

Mulher

 

Com a cara no mundo,
sabe chegar, sabe sair
e sabe ser.

Ser a geradora de universos,
Ser a que com malemolência atinge o que quer.
Mulher de cara pra vida,
que luta pela liberdade, pela união e pelo amor que ainda resta.
Mulher de diversas faces,
que pisa na terra, no chão e na lama e empodera-se.
Mulher que veio mostrar pro mundo a responsa
e a dádiva que é ser.

Ser negra, mulata, branca, índia e ruiva.
Mulher que se vê na rua, em casa ou na construção
suando todo dia pra conseguir seu pão.
Mulher que ecoa que o mundo não precisa

mais de atitude do que de gentileza.
Mulher artesã do mundo,
que vigora os seres e aproxima os irmãos.
Mulher de hoje, que introduz conceitos e aperta o peito pra melhor dizer.
Mulher, que sabe fazer a raiz produzir,
o ouro girar e a cantiga tocar.

A mulher que hoje olha pra sí e pro mundo,
e vê que seu lugar foi escolhido a dedo,
pra ser a semente desse lugar.

Mulher hoje é rima, é cabeça erguida, é sorriso seguro.
Mulher hoje, é a sede da necessidade,
O que o tempo precisa, e o que os homens jamais serão.

Dias

Já acordo com sentimento que não me cabe no peito.
Uma embolia de pressa como se o chão não estivesse ali por acaso,
mais ainda, como se as pernas fossem articuladas e longas não por acaso.
A fome que meu peito sente, não é minha,
mas me presentearam com ela no momento que vi as mórbidas paredes de uma maternidade.

O sonho que vivo não é o meu,
veio de um processo historicamente construído em face de um
suposto desenvolvimento das massas.
Desenvolver, Des-envolver.

Será a ilusão progressista o concreto que absorve o mundo?
Envolvimentos do acaso.
Reinventar futuros modernos é o que nos limita a estarmos a sós,
e o presente se permeia de furtivas memórias vãs.

Suponho que minha embolia foi pré-fabricada
Acordo sonâmbula de não dormir, o brilho do celular envolve a membrana dos meus sonhos.
Volto a contestar o passado, e vivo na ressonância do insurgir.

Felina ferida

A fera feriu sem dó
Porque bicho quer presa
Se não tem presa, inventa uma carnificina
O animal sem sono guia a morte lenta.
Felina sangra pelo animal homem
Que com sua boca larga desafia o próprio poder.
Coração frio de bicho selvagem, não entende que deve entender
Antes disso acha melhor devorar aos poucos, ferindo por dentro até corroer o ultimo osso.
Sua razão Pompéia é a que vale, antes de dar flores dá os espinhos e as urtigas
Antes da mansidão dá o ultimo veneno
E espera que a presa viva com o veneno nas veias
Sentindo a corrosão inerte no seu corpo
Sentindo o sangue jorrando de dentro sem cair ao chão
Sentindo a amarga prisão.
Leão rei dos não dóceis
Prefere mastigar sem dó
Antes de uma presa rendição.