02 dez MARCOS ANDRADE
Marcos Andrade

Nome: Marcos Andrade
Biografia:
Poeta, Contista, Escritor e Pesquisador. Mestrando em Sociologia no Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Gênero e Diversidade na Escola pela Universidade Federal do Ceará. Licenciando no curso de Ciências Biológicas na Universidade Estadual do Ceará. Tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos pela Universidade Anhanguera/UNIDERP e Funcionário Público na Prefeitura Municipal de Trairi. Participou de outros projetos editorais da Porto de Lenha Editora, como Antologia Poesia em Caixa Alta (2018), Antologia de Prosadores e Poetas Brasileiros Contemporâneos – PRÊMIO PORTO DE LENHA DE LITERATURA 2018, Antologia de Poesias, Contos e Crônicas CANARINHO (2018) e Coletânea Cartas entre Escritores (2018), do Selo Cavalo Café. Também tenho publicado poesias e contos na revista LiteraLivre.
Poesias
Desacertos da Beleza
A saia da Beleza era feita de perambulamentos.
Podiam-se correr mundos naqueles retalhos.
A vermelhidão impregnada em suas mãos era sonho de gente despossuída.
Coisas do colorau.
Caminhos que desaguam no vermelho do pôr do sol.
A Beleza tinha os cabelos coloridos de distâncias.
Esticados pelos ventos dos morros.
Seus olhos se pareciam muito com grãos de areia preta.
Uma menina envelhecida pela necessidade
E pelo suor das borboletas.
Não há nada que a Beleza não sabia como sonhar.
Até as estrelas conversavam em seus pensamentos.
O mar se acriançava em suas realidades.
E o dia não sabia ter outra cor que não à de sua farinha avermelhada.
Aquela mulher magicava todas as coisas com suas imperfeições.
Depois de sua passagem até os passarinhos desaprendiam a voar.
Folhas livres
As folhas levadas pelo vento não decidem para onde ir
Nem onde ficar.
Alegram-se com o destino.
Não seguem caminhos
Apenas vagam.
Nada atraem,
Perdem-se de tudo…
Invejo as folhas levadas pelo vento.
Elas não têm medo dos vazios,
Não são levadas por certezas,
Não possuem ancoras nem estradas.
Não se demoram em coisa alguma.
Apenas vão.
Apenas são.
Viajantes eternas no desconhecido.
A poesia da poesia
Ela é toda a poesia,
por que foi a mulher que se transformou
numa encantada mesmo antes de partir desta existência.
Suas mãos curam com a verdade.
Em seu abraço esconde-se um arco-íris.
E quando fala
borboletas voam dos prados de seu coração
buscando preencher as paisagens terrenas
com coisas que só existem em outros além.
Sua palavra transforma as ausências
e os medos da vida.
E por poesia.
E tudo ela muda para poesia.
Sua vida enfeita-se de vazios para fazer-se cheia.
Suas pernas
perdem-se nos caminhos
para as distâncias lhe encontrarem.
Seus pensamentos
recomendam as orações de estrelas.
Luzes brancas acendem-se em seus cabelos.
Todo mistério vacila para suas asas.
Ela é encantada.
Não se pode mais encontrá-la em lugar algum,
porque ela está sempre de partida.
Artigos de desambição
Tenho a desambição de nada ser
A não ser que aquilo que eu venha a ser
Possa ser menos que um grão de areia.
Tenho a desambição de não ser tão verdadeiro
Quanto à imaginação de um pássaro.
E nunca poder desejar algo que não seja fugidio como o vento.
As águas, as areias, as lembranças, os sonhos –
São estas coisas que escapam que eu desejo desejar.
Os desacertos me seduzem.
As imprecisões me abrigam.
A esperteza das caraubeiras me margeia.
Sou desajeitado como um pássaro aprendendo a voar.
Queria voar como uma pétala que se despediu da flor.
Tenho ânsia pelos sorrisos despossuídos.
Certa mágica me faz querer saber que nada quero
Além do perfume de um adeus.
Gente desimportante
Esse sorriso sem dentes é coisa de gente desimportante.
Também são as estórias que contam por aí.
Aposto que cada dente perdido se encontra numa estória
Que essa gente tem para contar.
Os dentes deles brilham mais quando estão no céu.
É por isso que as bocas se despedem deles.
Bocas vazias de dentes,
Mas que mastigam vivências para alimentar netos.
Os dentes de milho,
Quem sabe,
Foram os dentes deles plantados.
Aposto que as pessoas desimportantes sabem como fazer a terra abrigar tesouros.
E depois sabem colhê-los com alegria.
Esse sorriso sem brancura é mais bonito que qualquer outro,
Somente por que é coisa de gente desimportante.
Gente que sem ter o que comer sorrir clareando a noite.
Certa vez conheci uma mulher assim: ela me nutriu com seu sorriso sem dentes,
quando nada havia para comer.
E me ensinou a plantar os dentes de milho.
E me mostrou que um sorriso
sem brancura é mais lindo que o dia inteiro.