MA NJANU

Ma Njanu

POESIA_DE_FORTALEZA-POETA- MA NJANU

Nome: Ma Njanu 

Biografia:

Ma Njanu é escritora, poeta, assistente social e educadora. Tem poemas traduzidos para o inglês. É idealizadora do Clube de Leitoras na periferia de Fortaleza e participante de antologias. Lança, neste ano, de forma independente a livro-zine Atlântica é minh’ pele.

Poesias

Os usos babilônicos da raiva

Às vezes sinto raiva da minha imaginação.
me cansam as palavras tão discernidas que enfeitam poemas sobre a força de uma mulher.
hipócritas essas palavras dançam
me ludibriam visões do mundo novo
que não verei um dia
tão verde tão livre tão nosso
enquanto isso
a fome me bate o estômago
não comi hoje
não sorri
não esperancei
– vai ficar tudo bem.

a calma me engana y me leva nas costas sentada no dorso duro do assento cinza sem cinto.
queda do dia na noite cansada pelas árvores impressas no currículo vitae amassado que desliza arredio na Washington Soares.
quando acordo a cara fechada me dizem que os primeiros pés-de-galinha de minh’ face de menininha serão os da fronte.
no meio das sobrancelhas tortas. mal feitas.
de impaciência bruta estresse y mal amada.
mal comida dizem.

o racismo me vomita
não digere
mastiga os ossos
e suga o tutano
que viça na minh’ escrita
l e n t a m e n t e
enquanto isso mensais estratégias megas cópicas reiniciam sua épica jornada para botar comida dendi casa.

Vem do fogo todo voo/todo verso

Vou tacar fogo nessa gaiola
passarinha subversiva
por acaso não sou dona dela?
A porta nunca tá aberta
mas eu criei essa saída
na noite escura reluziu
minh’ pena o inundo lume
riscando cosmos
na malandragem
da bela vista ao
autran nunes
na ponta grossa
nebulosa
de minha cauda
encardida
ave afoita
voa solta
negrumin
Na avenida.

Ás minhas meninas

Saudade de estar entre vocês e
nossas múltiplas
pernas
que correm por
caminhos
em desencontros/

desencantadas com
qualquer novo
decreto reacionário/

desinibidas em
cada gesto indecoroso/
desfalecidas à noite
de cansaço.

Manifesto contra o assassinato-feminicídio de Ana

A noite é bela
lá fora a lua brilha
y nessa casa | sola
não descanso.
pelas frestas observo
os silêncios romperem a
ventania que me
arrepia a pele
y não durmo
nem sonho.
escrevo versos
pra esquecer que/
na noite dos ardorosos
poemas de amor/
na favela barras
de ferro empunhes
se levantam
ditadoras
nas mãos dos homens
contra a carne
de minhas irmãs
mulheres safas
pretas feito folhas secas
desprendidas dos caules
em direção à terra
mortas
mortas
confiro as portas
mais uma vez
os portões
talvez esteja em segurança.
– talvez.