21 nov LUCAS DOTH
Lucas Doth

Nome: Lucas Doht
Biografia:
Lucas Doth nasceu em Fortaleza-Ce e é na mesma cidade em que o poeta reside. Cedo sentiu grande atração pelas artes, desde a música ao teatro, fotografia e, claro, a literatura. Participou de cursos voltados para a formação do artista e começou sua jornada nas linguagens poéticas na sua adolescência. Atualmente formado em Letras, Lucas Doth ensina nossa língua, literatura e arte, além de passear pelas expressões artísticas, tendo trabalhos que envolvem teatro, música, performance e poesia. Em seus poemas Doth adota assuntos variados como a natureza, o misticismo, a favela e a boemia, pois procura traduzir em sua escrita as vivências, impressões do cotidiano e seus sentimentos mais profundos.
Poesias
O sol também se põe na favela
No céu da favela também surge a lua cheia
Iluminando as casas empilhadas
As calçadas irregulares
O asfalto esquecido
Mas o sangue colore de vermelho a vida
Das pessoas que só queriam sorrir
Tranquilas.
Meu corpo é um templo
Nele celebro a energia da Deusa
Conservo os altares e rituais mais remotos
Guardo os elementos terra fogo água e ar.
Com ele danço canto e dou altas gargalhadas
Choro comovido e emocionado.
Meu corpo é meu templo
Morada dos deuses, floresta secreta.
Nele há rios sem nomes e abismos infindos
Onde toda energia que desabrocha as flores
E ascende as estrelas me desperta e fortalece.
Há grutas sonoras e um deserto imenso de areias ilusórias
Nele conservo profundo silêncio
Mas nos dias de festa há um coro de aleluias
E xamãs encantados batendo milhares de tambores
Arcanos deslumbrantes tocando gloriosas trombetas
Em meu corpo dançam os orixás
Nele há morte e nascimento e uma biblioteca
Com centenas de livros escritos numa língua
Outrora universal, mas agora extinta.
Em meu templo as bruxas dançam livres
Na noite de uma super lua
Acendem fogueiras, queimam incensos
Bebem vinho e tocam rústicos instrumentos
As bruxas celebram a natureza
Mãe dos homens e dos deuses.
Meu templo não tem janelas
Porque não tem muros
E nada aprisiona porque é a céu aberto
Os pássaros que nele vivem voam por onde desejam
E constroem ninhos em seus cantos
Pois os pássaros devem ser livres
Assim como o homem deseja ser.
Meu corpo é meu templo
Por isso recebo a luz do sol em seus campos floridos
Rego com água da chuva minhas árvores e meus pensamentos
Colho minhas frutas, rosas e ervas sagradas
Alimento os animais e brinco com os anjos, gnomos
Duendes e todos os seres que se encantam enfeitiçados.
Então eu adormeço e descanso todos eles
Aquieto esse imenso mundo
Sonho pra desaparecer
E me envolvo no mistério de um sono profundo.
Poema Surrealista
Quanto quadro quantos anos se passaram
Nessa moldura que assistiu a morte
Quantos mortos acordaram na imaginação insone
Dos que pecam por prazer
Grandes lagos esquecidos continuam mantendo
Vidas encobertas
Bichos desconhecidos nadam na vida
De uma mente solitária
Esperei à toa por algo que já estava aqui
Submergido
Agora vibro feito uma centopeia
Embriagada na lua cheia
Danço como um caracol alucinado
E meus olhos são janelas para um mar revolto
E meu coração um balão sem destino carregando
Passageiros.
A Lavradora do Cotidiano
Ela colhe os pratos
E lava as folhas
Brancas de louça.
Limpa os gafos
Na fonte divina
De uma pia.
Ela enxuga as mãos
E serve a mesa.
Depois repousa
Exausta de lavrar
O cotidiano com
Mãos antigas.
Preciso de mar e lua
Para ter força
Eu preciso de terra e estrela
De nuvens e céu aberto
De rio, cachoeira e muitas folhas.
De animais alegres no mundo
Preciso de fogo e pedra
Não preciso de coisas empilhadas
Ou esquecidas fazendo muros
Nas minhas paisagens
Nem de automóveis atropelando
Os pedestres…
Preciso de pássaros voando alto
Ou pousando onde querem
Sem medo de gaiolas
Preciso do homem a pé
Pisando a terra e sentindo
Os pés no chão
Preciso da canção que sai
Da embriaguez dos sentimentos
E corta o silencio da televisão
Não preciso de roupas
Ou gestos que me mascarem
Preciso da humildade dos que
Querem de verdade apertar a minha mão
Não preciso de cidades
Quero a estrada
O esmo
O córrego
O abandono das casas esquecidas
E colinas adormecidas
No remoto tempo perdido
Quero o caminho escondido
Que leva ao paraíso
Que ninguém imagina
Ou espera
Eu quero o precipício.