21 nov LUAN MATIAS
Luan Matias

Nome: Luan Matias
Biografia:
Luan Matias, filho de dona Lourdes, nascido nas quebradas do “não se pode dizer de onde viemos” esquina com a vielas do “bairro X” do lado do “bairro Z” Poeta insurgente, ator, artista nas mais diferentes linguagens e educador social. Sempre de frente nos corres dos Saraus e resistências periféricas, um dos poetas do livro “Ruma”, a antologia dos saraus, lançado na XIII Bienal do livro, autor do zine Espelho Caótico. Aos 27, já tem noção de que a luta é diária e costuma aniquilar primeiro os menos favorecidos. Já atuou em diversos coletivos pela cidade, hoje vem ajudando a construir o Slam da oKupa, sarau da oKupação e somando firmemente com a biblioteca comunitária Okupação na rua do amor.
Poesias
Guarda chuvas (Fortaleza bipolar)
Eu não uso guarda chuvas!
Gosto mesmo é de sentir a agua tocar minha pele
E escorrer em uma dança frenética , dividindo
Espaço com o meu suor, que outrora era radiante.
Eu não uso guarda-chuvas!
Prefiro molhar minhas roupas
E sentir que estão mais pesadas que no comum.
Eu não uso guarda-chuvas.
Não uso não!
Não uso mesmo.
E se reparar de mais eu ainda quebro o teu
E te puxo pelo braço e te levo comigo
Para sentir o prazer que é tomar um banho de chuva.
RotinA
Sono presente, empatia e vontade de deitar.
Perfume caro que se mistura com o barato.
Vontade de vomitar.
Pessoas apressadas
Pedintes nas calçadas
Cheiro de salgado misturado com mijo.
Bom dia! 11º andar.
Agua no rosto, concertar o cabelo.
Bom dia de novo, e mais um bom dia!
Elevador sufocante
musica irritante.
Portaria!
Os hippies cantantes: “DA UMAOLHADA NA ARTE MOÇO?”
Estou apressado, depois volto para olhar.
De estatuas humanas até um show de bizarrices.
Melhor me apressar.
Caminho apertado
Suor escorrendo, fome batendo
Pessoas paradas olhando para o mesmo lugar.
Na solidão de um ônibus tudo se repete denovo
Só que agora está frio.
“Olha a pipoca e o amendoin sucrilho, quem pode me ajudar?”
Apresso o passo, a fome não só em mim existe.
Tem fila no restaurante.
Subo, boa tarde!
“Tio o palhaço vai vir?”
Tenha calma a data vai chegar.
Subo como e mudo de lugar.
Vejo a expressão satisfeita quando desço o saco de lixo.
Amanhã tudo de novo, essa rotina vai me matar.
Autran do bode
Tem fogo no rabo de joana!
Gritou minha vizinha aqui do lado.
Ei menino, não cutuca o cú do cachorro,
Eu escutei de passagem.
-Essa praga só vive embriagada!
Disse minha mãe quando eu voltei do rôle.
No Alto quando chovia tinha enchente!
Ai você pensa…
Que triste que deprimente.
Mais o que eu via mesmo era as pessoas saírem para tomar banho de chuva.
-Ei menino traz shampoo e sabonete que essa bica aqui tá rocheda!
E ai você vê que além de sofrer a pariferia também é lugar de vida e felicidade.
Resistir
Tenho sede de conhecimento e sabedoria
Nasci nas quebradas
Me criei na periferia
E lá o gatilho sempre está a meio-fio para disparar!
POW! POW! POW!
Mais uma família de luto
para eles era só mais um preto vagabundo
Já vai tarde, ouvi dizer
Era envolvido? Ouvi perguntarem!
Até arma para forjar flagrante eu já vi implantarem!
E essa é a realidade que assombra a periferia
O preto morre e leva tiro todo dia.
A carne mais barata do mercado é a carne negra…
A carne mais barata do mercado é a carne negra…
Já dizia a saudosa Elza Soares
Que desde o tempo dos quilombos e de zumbi dos palmares
A carne preta tem um preço que está a negócio.
E como eu disse, tenho sede de conhecimento!
Sei que o branquinho gosta de um preto
Mais é para outro fundamento.
Roubam a nossa cultura e vestem com uma roupa padrão
Não podem ouvir nossa música que querem tremer até o chão
Não!
O povo preto tem vez!
Quer se comparar com a gente ?
Tenta nascer outra vez!