21 set JULIE OLIVEIRA
Alan Mendonça

Nome: Julie Oliveira
Biografia:
Nascida de Assunção pelas mãos de Socorro e Rouxinol, não chorou ao nascer e isso talvez explique
tudo, ou nada. É dessas pessoas dicotômicas que ama gente, mas também precisa de silêncios. Analógica e digital. Prosa e poesia. Cordel feito por mulher, em bando. Sem Lampião. Com a bravura de Dadá e das Marias.
Não acredita no amor, vive o amor. Construtora de pontes, um caleidoscópio de cores que escreve, edita e segue em plena revolução. No facetruck e instafakepublica alguns delírios e tenta abraçar os que se afinizam com essa loucura que é fazer arte.
Estique essa prosa poética em:
@julie.oliveras | @cordeldemulher
Poesias
Saudades
Hoje a saudade bateu
Com sua marreta pesada,
Me lembrando de um tempo
Que andava despreocupada,
Abraçava meus amigos
Sem o temor dos perigos
E esbanjava risada.
Só quem ama a liberdade
Pode me compreender,
Compartilha o sentimento
De não poder percorrer,
A cidade, seus espaços
Apreciando seus traços,
Saboreando o viver!
Baby
Ele adorava comprar escovas.
A cada mês uma nova.
As cerdas macias como seus lábios mentolados.
Eu ria e achava um exagero.
Seu exagero de risadas,
de banhos e dentes limpos
envolvia meus dias.
Mesmo nas minhas caras e bocas ranzinzas sempre,
sempre me permitia ser vencida.
Nessa nossa história vencer não significa nada.
Há dias que apenas flutuo
e
respiro
lentaaaaaaamente.
Inspirando para te trazer pra dentro.
Mergulho e do nariz até a garganta o gosto refrescante
se mistura na minha saliva quente.
Quem dera teus dentes
pudessem me mastigar inteira
Boca de Mulher
A boca de uma mulher é
Instrumento de poder
Na luta para alcançar
O que ela bem entender
Só com voz e atitude
Nós poderemos vencer!
Vencer o silêncio que
Teimam sempre em nos impor
Como se lugar de fala
Fosse fazer um favor
Sem saber que gritaremos
Se o caso assim for!
Se não é doce minha voz,
Se é renitente, é rouca
Sinto muito em lhe dizer
Se a percepção for pouca
Toda mulher é um mundo
E toda mulher tem boca
Sobre quem penso que sou
Meu nome é Julie Oliveira,
Sou poeta e cordelista.
Nasci pelas mãos da Vó,
Dona Maria Batista,
E desde que aqui pisei
Eu me vejo como artista.
Sou filha de Assunção,
Mulher doce, paciente;
Neta de Alice, também,
E honro cada semente
Porque carrego comigo
A força da minha gente.
Nasci bem aperreada,
Mas não cogitei chorar.
Eu sentia o quê a vida
Tinha pra me reservar:
Esse misto de emoções
Que pude experimentar.
O aperreio primeiro
Me veio logo ao nascer…
Não chorei, e minha avó,
A parteira, ao perceber
Não entendia o motivo
E se punha à me bater
O que ela não sabia
É que eu já via a vida
E não queria chorar,
Queria enfrentar a lida.
Eu quis pisar nesse mundo
Com minha cabeça erguida.
A poesia eu herdei
De um amigo de fé,
Companheiro de jornada
A quem aplaudo de pé:
Sou filha do cordelista
Rouxinol do Rinaré.
Sigo sem me definir,
Há em mim múltiplas cores.
Aprendo no dia a dia,
Já venci algumas dores…
Sou brisa, sou furacão,
Isso eu afirmo, senhores!
De luta e de alegria
É feita a minha jornada.
Lutando por equidade
Sigo bem acompanhada.
Nossos versos representam
Artilharia pesada!
Sou do Cordel de Mulher,
Uma nova geração
Que com verso e competência,
Rima, métrica e oração
Conquistamos nosso espaço,
Seguimos em união!
Fell On Black Days
O tique-taque imaginário pulsante em mim,
marca a vida como areia de ampulheta.
Sabemos do fim.
Nossas escuridões nos unem,
nossa certeza da finitude,
e todas a nossas dores povoam o quarto.
Na fumaça dançam todos eles que nos olham.
Pirilampos da dor iluminam nossos olhos.
Ao seu lado me sinto num carnaval monocromático.
Chris, tem razão… eu não tenho medo mesmo da mudança.
Ele tem razão e eu nenhuma.
Hoje sou uma das mulheres de Modigliani,
e não preciso ser mais nada.
Tudo parece inútil.
Quando você me pergunta como cheguei aqui,
sei que amanhã talvez nem se lembre,
e eu não quero falar.
As palavras são inúteis, como calcinhas
para um encontro como o nosso.
Nenhuma palavra dá conta da minha escuridão.
Nenhuma métrica cabe o desejo desses dias.