JOSÉ SOARES

José Soares

POESIA_DE_FORTALEZA-POETA- JOSÉ SOARES

Nome: José Soares

Biografia:

Nascido em Fortaleza, em 16 de março de 1984. É poeta, Bacharel em Direito e sócio-fundador do Instituto Brasileiro de Direitos Culturais.

Poesias

Austeridades – ou como se diz eu te amo

Quantos pratos azuis saltaram
tudo por conta dessas palavras:
eu te amargo
eu te amargo:
voz no silêncio, escraviza
eu te amargo:
boca seca salivando nome
eu te amargo:
instante de ordem
que cria necessidade
em uma liberdade obrigada,
diminuindo estados
eu te amargo
feito praga
porque eu te amo é insustentável

Mara Hope II

A cidade tem labirintos fantasmas
flutuando no Atlântico
onda pós onda
naufragamos no sal
banhados de areia e azul
como barco solitário
como Sol sob a Ponte Velha
quedamos
corpos em ciclo de decadência
nessa Fortaleza
estagnados, corroídos
onde a esperança é a última que Mara
mas Mara

Malditos olhos azuis

No escuro, azuis teus olhos castanham
na parede as luzes como astros
iluminam tua pele branca
que dança em valsa, falseando sombras
enquanto teus cabelos caem no meu rosto
depois de quatro, dormimos
preferi tua varanda ao quarto abafado
até o galo cantar, até nuvem e chuva modificarem a paisagem
desaparecendo tudo numa tela branca
pausa,
recuperamos o fôlego
escuto tu voz que molha e diz
que mãos no seus cachos é o seu fraco
cachos, são o meu fraco
tem a América do sul nas costas
costas que imitam a terra,
suportando o peso doutro corpo
devorando-o
na noite em que o suor se fez fumaça
úmidos
misturamos tragos
únicos estragos

 

 

Brilhantes

 

Despidos de qualquer bandeira

 

esgotados, suados e de

peles pretas prateadas

rabiscadas de América do Sul

 

uivamos pra lua

 

e temos a certeza:

Não, a lua não é norte americana

Pássaros negros

 

Aquele homem negro

fuzilado

enquanto dirigia seu carro branco

oitenta tiros

oitenta vezes

lembrou outro negro

fuzilado

em um Fusca

em um nove meia nove

e outra negra

executada

com quatro tiros na cabeça

no banco traseiro de outro carro branco

 

a cor da pele define

o ar que se deve respirar

 

apesar das gaiolas

cantam os pássaros negros

porque o verbo é livre

 

mas tem coisas que não me sai:

corpos matáveis sem culpa;

mortos por política