JANAÍNA MARTINS

Janaína Martins

POESIA_DE_FORTALEZA-POETA- JANAINA MARTINS

Nome: Janaína Martins 

Biografia:

Sou artista da dança de prática e formação. Escrevo e danço minhas próprias obras. Ainda que a formação em dança se evidencie, transito por outras áreas da arte (cinema, videodança e artes visuais) borrando essas fronteiras. Na minha prática artística, a poesia se faz presente em forma de movimento, ora atravessando o corpo que dança, ora movimentando a mão que escreve e pondo a dançar as letras que fazem do papel seu palco. Escrevo, mas não apresento. Vejo essa convocatória como oportunidade de fazer passear as letras que estão nos meus cadernos, pois como bem disse Conceição Evaristo (2019) “Quem dá vida ao texto é o leitor.”

Poesias

ENQUANTO A LUZ NÃO ACENDE

Por Janaína Bento
Silêncio.
Escuridão.
Chegou minha hora, penso.
Não!
Não é agora, calma.
Vai ser daqui a pouco.
Silêncio.
Caminho com cuidado,
não posso fazer barulho.
Não posso me denunciar.
Tô cheia de penduricalhos.
Tiras saem de mim e em cada tira um guizo.
Pra que tantos guizos? Mal posso respirar sem que eles se movimentem.
Mas, já era de se esperar.
Movimento gera movimento.
Era essa a ideia desde o início: movimentar e gerar movimento.
Movimentar e provocar som para potencializar mais ainda o movimento.
Mas, não agora.
Calma
Escuridão.
Um X se mostra. Lá não é o começo.
O começo já vem sendo desde antes do X.
Essa é a questão?
Não, mas é pra o X que eu vou antes da luz acender.
Em silêncio. pé ante pé.
Sem movimentos bruscos para não provocar os guizos, eles me denunciam.
Não posso ser descoberta agora, só quando a luz acender.
Paro.
Inspiro pela narina direita, a saída é sempre pela esquerda.
Aquieto a pulsação.
Organizo a postura para quando a luz acender.
Então vou caminhar bem devagar, um pé após o outro.
Meia ponta.
ponta.
Arrasta à frente.
Meia ponta.
Calcanhar.
Passo.
Meia ponta.
Ponta.
Arrasta à frente.
Meia ponta.
Calcanhar.
Outro passo.
E assim prossigo até atravessar o palco diagonalmente.
Corredor aqui só o da luz, quando esta acender.
Sem correr no corredor, a travessia continuo.
Pé ante pé.
Caminho lentamente em espiral, movimentando os braços, ora como ondas, ora como lança, ora como espada.
Tudo lentamente, mas não agora, só quando a luz acender.
Enquanto a luz não acende,
fico aqui paradinha. Repassando a dança em silêncio. Cheia de penduricalhos. Pra que tantos guizos?
Mal posso respirar sem que eles movimentem.
Os guizos me anunciam.
A luz acendeu.

PicuManifesto Escolhambatório

Por Janaína Bento

Por uma libertação dos padrões.
Padrões que aprisionam, que rotulam.
Libertação desses rótulos que as pessoas teimam em me dar.
Rótulos que acham definir quem sou.

Desde quando rótulo é identidade?
Quem define minha identidade sou Eu ou definem uma identidade pra mim?

O que me define?
Meu corpo? Minha cor? Minha postura?
Meu cabelo?

Para ser livre tenho que soltar a moita?
Para parecer livre tenho que soltar a moita?
Para estar livre tenho que saltar da moita.
Para estar livre tenho que soltar o verbo.