26 nov HERMES DE SOUSA
Hermes De Sousa

Nome: Hermes de Sousa
Biografia:
Hermes de sousa veras é remendo de gente. Nasceu em 1991 em Fortaleza, Ceará. Habitou a cidade da luz até 2012. Foi vice-rei do Grupo Eufonia de Literatura, coletivo literário que se reuniu em muitos lugares, mas antes de se encantar, acontecia no pátio da biblioteca pública municipal Dolor Barreira, entre uma árvore e um poste. Formou-se em ciências sociais pela Universidade Estadual do Ceará e, sem anel de bacharel, arribou para Belém do Pará com intuito de cursar mestrado em antropologia pela Universidade Federal do Pará. Em 2017 mudou-se novamente, mais ao sul, para continuar os estudos acadêmicos em antropologia. Atualmente, desnorteado, não vê a hora de voltar para algum lugar de sol e mar. Tem contos publicados na revista Maracajá e no portal LiteraturaBR.
Poesias
Sazonal secura
Memória é coisa de se rir
na minha mente deveria ser imagem
como um filme antigo recém filmado
em tecnologia technicolor
invés disso, somam-se palavras sujas
palavras-mudas, palavras-algas, palavras-ruas
palavras-rugas
imaginando, maquinando e embolorando
minhas lembranças de menino, os anseios do rapaz
não recordo os nomes dos meus escritores cearenses preferidos,
minha rede anda fedorenta e imóvel, resistente a qualquer lavagem.
juntam-se pessoas esquecidas, bandas, quadrinhos, cientistas e ocultistas,
amontoados e esgarçados pelas horas insidiosas.
mas a graça disso tudo é ver essas palavras-navalhas se afogarem no Rio Pajeú
em sua sazonal secura.
Chão de fábrica
Tiro da gaveta mofada
um HD externo obsoleto
Depois de todas as adaptações
gambiarras e revoltas técnicas
conecto o trambolho ao notebook
encontro fotos do mar
um gato falecido
meus avós no sofá assistindo ao jornal.
Uma pasta com retratos da formatura do meu irmão faz chover meu rosto
primeiro da família formado em universidade pública
retiro o HD, ergo meu corpo e volto para o chão de fábrica.
Maneira de descobrir Brasileiro
Quer distinguir o brasileiro do colonizador?
Toque tambor, pode ser o rum, rumpi e o lê
ou o deitado do tambor de mina; um boca de tronco de carimbó
Agite as cabaças com miçangas, bata triângulo, agogô e afoxés
Assopre fumaça de defumação
Balance as mãos, baie, gire gira
Defume e banhe com as ervas cheirosas
Lave com cachaça os pés
Cante para voduns, orixás, inquices
Ame os encantados
Se o sujeito correr
É um metido a besta
Se o besta voltar com armas
Eis aí o inimigo, tão doente quanto perigoso.
Flechada de caboclos neles!
Tarde, chuva, tacacá
tarde, chuva, tacacá
preguiça se estira
assopra o calor
vento não há
quer dizer
nem sei.
meu estômago alentado
pensa nos famintos de tudo
a fome, o verdadeiro atentado.
a mão coça, o sexo entumece
cérebro, pensamento, alma
calma, eu peço
depois da chuva
me des
águo.