24 nov HELDER FELIX
Helder Felix

Nome: Helder Felix
Biografia:
O autor nasceu em Fortaleza em 1985. Formou-se em Letras pela Universidade Federal do Ceará e se especializou em ensino de Língua Portuguesa pela Universidade Estadual do Ceará. O autor é professor da rede estadual de ensino do estado do Ceará. Teve textos publicados em revistas eletrônicas, blogs, e em antologias de concursos literários como III Concurso literário Big Time Editora, Antologia Prêmio Vip de Literatura Edição 2016, Antologia Baseado na Estrada – 50 anos do movimento Hippie, Concurso Contemporânea de Literatura 2016, 5º Concurso Literário Pague Menos, IV Festival de Haicai de Petrópolis, Antologia de contos Arte do terror – Cartas, Antologia Arte do terror-História, IX Coletânea sec.XXI- Homenagem ao escritor Alexei Bueno, V prêmio literário Escritor Marcelo de oliveira Souza, Livro diário do Escrito 2018. O autor publicou seu primeiro livro de poesia intitulado Batons, Eucaliptos e Aspirinas pela Drago Editorial em 2017.
Poesias
Vozes mudas das ruas
Almas podres desfocadas.
Ofuscadas pelos carros e pela vida.
Pelo ritmo robótico e frenético da vida.
Largados.
Cão no silêncio da noite,
O papelão,
O pano velho e rasgado
Colchão improvisado.
A cidade, adormecida ainda,
Gemidos de frio e de fome.
Os galos modernos
Despertam os robôs para a vida
Monótona vida finita.
Nas calçadas, nas praças, nos bancos…
Vagam humilhados.
Taciturnos com tantos insultos
Os corpos se expressam ao contrário.
Olvido,
Mendigais pão, respeito e afago.
O vazio nos peitos magros
Grita a pele nua e cansada
Os olhos baixos e os pés inchados.
Grita!
Imensamente grita!
Vozes silenciadas.
Uns veem, mas não olham.
Outros olham, mas não se importam.
Atribulados, se viram com podem:
Reciclagem, engraxate, olhador de carros..
Pobres almas sem asas.
Esquecidas na rua de gente muda e nariz arrebitado.
Pobres almas sem cascas
Sem casas.
Sem aspas
Sem nádegas.
O mundo é grande
O mundo é grande
Maior que o da minha infância.
Não é toda azul
É bálsamo.
O mundo é grande
É multicolor.
O mundo é maior daquele que o poeta cantou.
É moinho de carne
Brilhante falsário.
O mundo é grande
Maior que aquele da televisão.
Muito maior que a globalização.
É relógio pontual
Cessa desesperado.
O mundo é música
É ritmo
Desatino
O mundo é maior que a carne
[finita
É pretérito.
O mundo não cabe no peito
Não é globo de plástico.
O mundo é vasto tanto quanto um poema inacabado.
O mundo é pausa que não para.
É grande.
Não cabe no papiro
Tão pouco no coração.
Poema da manhã
Nesta manhã fria de domingo
Ponho-me à máquina o claustro diário.
Minha mãe na cozinha faz o café
Café preto café bom que poeta cantou.
Na varanda, os cachorros brincam com os ursos de plásticos.
Ao fundo, o som profundo de muitos dias.
Um gato desfila solenemente entre os muros do quintal de casa.
O cheiro bom de cozido exala sentidos da infância.
E, neste alinhamento lírico e poroso,
Penso em versos que exprimo.
Humildemente exprimo nessa manhã fria de domingo.
Nos jornais de amanhã
De repente,
Um tiro atiro.
Nos jornais de amanhã
Que previ ontem
Vejo hoje
Meu sangue nos olhos de vômitos
De Antônios.
Sem vida,
Meu frágil corpo
Descompassado no chão de um fétido banheiro
Mera ocasião formal de uma matéria dada
Clama em silêncio
Pelo aleijo etéreo.
Os primeiros flashes não me atordoam.
A mediocridade dos que ficam sim.
De longe, já incorpórea.
Vejo fitas bicolores que me separam dos outros
Como me dissessem baixinho:
“ Psiu! Vai embora, já não te pertences mais”
Nas casas sem lares
Alumiam-se diante do fato já gasto.
Metamorfoseiam-me e confabulam.
Sou
Mera ocasião banal do apetite dos outros.
Mera ocasião banal do prazer solúvel dos outros.
Estonteante em outro plano
Rio
Da carnificina das pessoas.
Que fingem um penar com um choro falso abafado.
Assim, sentem-se mais humanas.
Assim, sentem-se mais solidárias.
Assim, sentem-se mais imaculadas.
Nobres criaturas vis.
Agradeço-lhes
Todos os lamentos exaltados
Todas as velas solitárias
Todas as homenagens doençarias.
Sou
Mera ocasião de se acharem vivos.
Mera ocasião de se fazerem momentaneamente ternos.
De repente,
Estranhos homens de pele oleosa e camisas pretas
Levam a parte corpórea que me resta.
Caibo sem dificuldade na caixa que me trazem.
Meus pares em partes partem pasmados.
Profilaxia de praxe.
Amanhã nos jornais
Urubus venderão minha imagem desfalcada.
Confabularão
Julgarão
E eu
Reduzido a vagos comentários
Novamente rio
Da opinião sensata desses nobres insalubres.
Que não veem a hora de compartilhar
A exposição de uma vida aleijada.