Poesias

Ser de pedra

Uma montanha desperta
Caminha em direção à cidade
Ao chegar já não é
A montanha virou cidade
As árvores levantam
Vagueiam pelo meu sopé
Suas sombras desfiguradas
Gemem na clausura da janela
Sem raízes não são árvores
Findam outro ser quaisquer
Uma pedra rola as vidraças
Como uma concha
Tento escutar o mar
As pedras não falam
Vivem morosamente inertes
Na sabedoria que um dia
A natureza a engolirá
Bendita pedra que veio ao lar
Sem jamais saber do meu pesar.

Ode do sertão

No calor do sertão
O sol queima o chão
Rasgando o imaculado solo
Entrelaçado por minhas veias
Na bacia do açude seco
Que desce a garganta
Aonde a flora não se planta
E a labuta jamais quebra
Galgada em mãos de pedra
Rasgada em sórdido golpe
Enquanto o céu não pranta
Choro aos santos a galope.