EDVALDO RAMOS LEITE

Edvaldo Ramos

POESIA_DE_FORTALEZA-POETA- EDVALDO RAMOS

Nome: Edvaldo Ramos 

Biografia:

Edvaldo Ramos Leite, nasceu em Fortaleza no dia 07 de agosto de 1882.Graduado em Enfermagem pela FAMETRO, estudante de Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Ceará, funcionário do Metrofor e professor de Biologia. Escreve no blog Domo Solar e em fanzines sobre cinema e cultura pop. Seus autores preferidos são Virginia Woolf e Neil Gaiman.

Poesias

PANTOMIMA

Dá-me perdas e desejos
Dá-me vinho e palavras.

O inesperado tempera a fumaça dos meses
Assusta-me no que era antes chão
Pois, súbito, névoa

As inconsistências do sólido,
postas à prova pelas inconstâncias da união
Multiplicam os muitos possíveis

Já existentes nas sombras contidas pelos desenhos do eu
Oxalá reconhecesse e acolhesse em paz
A bruma rápida das versões libertas

Se fosse eu a consciência-mor dessa inexatidão borgiana
Congregasse em música e dodecassílabos
a multidão bagunçada de vozes
Que não se contêm sufocadas

Depois do maremoto que varreu minhas certezas
Encaro as conveniências das grades que cederam no infortúnio
Passa na calçada um passo meu que gargalha no escuro

Que tem Margot nas mãos e a mim cego em cativeiro
Os momentos pesam na penumbra como luz aceita
Não mais me assusto na presença de minhas sombras hostis
E me descubro na pantomima de meus dramas.

UM NOVO TIPO DE MESSIAS

Sob o sol de uma tarde escandalosa
Em que o calor derrete a alma do sujeito
Correndo atrás de sustentar uma outra vida.

Ele se explica, mas não faz nenhum efeito
Mas não é nada justo com quem vai chegar
Deixar de herança apenas terras devastadas

Ele aprendeu bem direitinho a ser omisso
Mas sabe que perguntas são sementes disfarçadas
O que temer na onipotência do futuro?

O que tiver de acontecer já aconteceu
Ser sábio jaz em criar justificativas
E quem descobre isso é hoje um novo Prometeu

O meu legado é só um monte de perguntas
E meu espólio apenas livros e canções

A paz existirá de forma diferente
E meus ensinamentos não serão pregações
Quem sabe surja um novo tipo de messias
Quem sabe ele goste muito de cinema

Quem sabe tenha aquele ar de professor
Do tipo que ensina a superar qualquer problema
Enquanto isso em tardes longas como essa

O nosso herói projeta a mente no passado
Tentando ser a sua parte de outros tempos
Messias que o previne de um movimento errado.

HERANÇA DO PRESENTE

Com os sons do que não mais existe
Passado o que está consolidado
Rígida memória cerca as figuras

O mármore do tempo adorna o ser das coisas findas
Antes do fim estou tal qual pilar de sal
Dois pontos divergem adiante

Em escaras as fases guardam seus sinais
E doces serpenteios enfeitam a face do cansaço
Rosto jovem flerte os traços ladeando os olhos
As garras da águia carregam toneladas de vastidão
Há peso sobre as asas e surpresa

O voo avança agora: é um mergulho!
Seja, pois, o outro lado da linha o céu
E siga a coragem reta ao sol…

PURA ENGENHARIA

A sua mente é toda ordem
Mesmo eclodindo do choque
Até as aflições se dispõem numa sucessão simétrica
Florescendo em fractais
Jump scare em terror barato
Meu fetiche é querer
Te dar um caos genuíno
Irremediável e evolutivo
Mas não é como fazer rolar uma pedra do morro
Desfazer tua ordem
É pura engenharia.

Não é sobre a nuvem
Sobre nada etéreo
Sobre estar nos céus
Sequer sobre Pasárgada

É sobre a rachadura no mármore
O risco na parede
Sobre quando cuspi sangue no banheiro

Tentando por pra fora algo de que não precisava
Quando as manchas e feridas
Tornaram-se oráculos através dos quais
Buscava-se entender que todas as coisas são uma só

Alguém esqueceu sujeira nos telhados
Alguém martelou um prego numa árvore da rua
Alguém, sem ver nem pra quê

Amassou uma placa de ponto de ônibus
Tudo isso é sem ver nem pra quê
E tudo isso é imensidão indizível.