20 nov BENIMAR DE OLIVEIRA
Benimar de Oliveira

Nome: Benimar de Oliveira
Biografia:
Sou Benimar de Oliveira Barbosa, nasci aos vinte e sete de dezembro de 1963, em Fortaleza/CE. Na escola onde cursei o Ensino Médio, criei um grupo de arte (CULTURARTE) para que os estudantes pudessem publicar os seus desenhos, as suas poesias, as suas danças e os seus teatros. Na minha primeria graduação (Ciências da Religião/Seminário da Prainha) como também na segunda (Filosofia/UECE), em ambas as instituções, procurei promover eventos de produção artistica entre os estudantes. Há mais de vinte anos faço parte do coletivo “Entre Aspas”, que divulga a arte da Collage. Participo também de saraus que acontecem pela cidade, procurando expandir a importância da palavra. Sou professor e estimulo os meus alun@s a lerem e produzirem textos poéticos. Também sou militante da Pastoral do Menor e do MEB.
Poesias
TITO, O PÁSSARO DA LIBERDADE
Os pés descalços
sobre as ruas nuas
eram as tuas manias de infância.
Banhava-te nas águas da Assunção
sem dar-te conta do teu destino.
O Evangelho entrou na tua vida
como uma navalha cortante.
Deixaste os muros da igreja
para lançar-te às ruas
em busca da liberdade.
Tu conheceste precocemente,
as catacumbas da ditadura.
O pau de arara,
o eletro choque
e as pancadarias sobre o teu corpo
foram teus inimigos mais próximos.
O teu silêncio,
arma poderosa diante dos teus algozes.
O teu compromisso com a liberdade
fez-te sangrar,odiar e amar.
Nem os ares de outros mundos
amenizaram as dores da tortura.
Os capangas da ditadura
já haviam se deitado
sobre a tua alma.
O último vento de setembro,
que tocou-te a face,
trouxe consigo a vida que havias perdido.
A morte foi o ápice da tua liberdade.
És agora uma sarça ardente
que nos move rumo à liberdade.
PALAVRAS
Gosto de palavras,
principalmente daquelas que corroem por dentro.
Mas gosto também,
das palavras que amenizam as dores.
As palavras que não me dizem nada
defeco-as uma a uma.
Na hora da dor,
as palavra juntam-se
e afagam o coração em frases.
Gosto das palavras,
pois elas fazem pontes.
Podem ser silenciosas,
mas precisam avançar corpo a dentro.
Palavras são chaves potentes.
As palavras podem marcar,
podem matar,
podem fazer sorrir e, até
mesmo, ressuscitar.
Os profetas usam palavras.
Os mentirosos abusam das palavra
Os amantes se traem com as próprias palavras.
Palavras são estruturas
que nascem do desejo de expressar-se
e morrem nas calçadas.
IDENTIDADE NEGRA
Eu sou negro.
Tu és negra.
Ele é negro.
Somos todos negros e negras.
Vimos da mesma história:
somos da senzala,
do canavial,
dos navios negreiros,
dos quilombos…
Porém, é melhor que se esclareça:
não somos escravos,
fomos escravizados.
Meu sangue é negro,
meu cabelo é pixaim.
E o teu, é liso?
Não nego a minha pele escura.
Não fujo dos tambores,
nem dos terreiros,
pois venho de lá.
Ainda tenho que quebrar correntes
todos os dias:
nas fábricas,
nas ruas,na escola…
Sou negro, sim!
E o que é que tem?
Sou da mesma linhagem
de Zumbi dos Palmares e Chica da Silva.
Minha cara é negra.
Meu peito é negro.
Meu pé é negro.
A minha identidade é negra!
AMOR-CARNE
Nessa hora vivida
não me importa se tens alma.
Só quero a tua carne,
teu cheiro.
Tua alma pode perder-se no espaço,
adormecer entre sonhos
e só voltar quando estiveres
livre de mim.
FOME
O menino chorou
A mãe também.
O menino suspirou,
O pai também.
O menino calou,
A fome também.