21 set ANTÔNIO ORTIZ
Alan Mendonça
Nome : Antônio Ortiz
Biografia :
Nascera numa terra agreste: Boa Viagem, mas nunca teve o coração seco. De espírito quixoteano, saiu da terra natal ainda adolescente, fixando moradia em Fortaleza nos anos noventa. Formou-se em Letras pela UFC, cursou Direito e Filosofia pela mesma universidade. Atualmente, está concluindo o curso de Licenciatura em Filosofia pela Uece. Além de poeta, contista e cronista, é professor de Gramática, Literatura, Redação e Filosofia em escolas públicas e particulares de ensino médio. Autor de A forma do outro (2014), Palavraria de Infância (2016), ambos poesia, e de Des — Histórias Quotidianas (2016), contos. Ainda este ano será lançado seu terceiro livro de poesias: 69 poemas descabidos.
Poesias
QUANDO, MEU CARO AMIGO, ENQUANTO
Tempo, meu caro amigo, me dissera que é vida:
Simpleza e razão
Tudo é certo
Como afirmam números
E vida amanhece
Todos dias
Para que possamos bebê-la
Nascemos sem fruto
Sem eira, sem rumo, nem mesmo caminho a descobrir
Jogados a essa coisa tão certa
Tão estupidamente simples
Que fico constrangido
Quando ouço de outros sobre dádivas incompreensíveis de deus distante e incoerente.
Vida, meu caro amigo, é aquela árvore
Que se posta em esquina desde sempre
Que resiste em encruzilhada porque sabe que árvore é apenas
Não importa que se faça
Vida é simpleza e razão
É delicadeza de gota de chuva em terra árida.
Vida é somente.
PÁLIDO OLHAR ESTÚPIDO
Às vezes, você me deixava alegre
Às vezes, garota, achava que conseguiria tudo que eu quisesse
Se o tivesse
Teu pálido olhar triste
Em procura de distante
Esse olhar de natureza morta
Quando mirava teu olhar
E o sentia em meu, ainda que despedaçado,
Teu pálido olhar triste
Nada desejava
Além de teu pálido olhar
Que se perdia numa nuvem qualquer que passava perdida em céu azul Em vezes, garota, eu me via a sorrir
E estava certo de que era teu pálido olhar estúpido
Porquanto, garota, diga algo
Grite palavras de ira e desafeto
Que não tenho nada
Que nada tateio
Além de lembrança de teu pálido olhar
Além de andanças sempre cabisbaixo
Em que perdia direção de céu
Para vê-lo apenas em reflexo de poças d’água com sapatos molhados e pensamento cheio de teu pálido olhar estúpido.
MORTUÁRIO
Morrera em quarta-feira de cinzas
Como toda ilusão
Era tarde quente
Sem nuvens ou lágrimas que abrandassem aquele ocorrido Não houve convites, avisos
Nem adeus
Morte súbita
Embora não tivesse sido surpresa
Porque não fora primeira de suas mortes
Já acostumado a tantas
Não passou de data marcada em calendário
Calejado
Corroído de pó e mofo
Morreu
Apenas e somente
Talvez para renascer e maltratar e morrer
Como aborto
Inesperado
Dolorido
Ou flor
Que teima entre espinhos
E de dor e lamento, beleza
Verdeja, porém
Após enterro sem esplendores
Ganhou lápide
Mármore carrara
Com essa inscrição em letras góticas:
“A incerteza fora meu veneno”
Amor Sousa da Silva
PEQUENA ELEGIA
É Poeta,
Tinha no meio do caminho uma pedra Agora
Nesses tempos de louca servidão Cegueira e devoção
Há enormes muros
Na travessia do pensamento
Pois bem, Poeta,
Não há mais caminhos para pedras.
CÍRCULO VICIOSO
Tive breve sensação não sabida até então
Quando me questionaram por que não guardava fotos, vídeos e apetrechos Que me refizessem passado para projetar futuro
Até hoje não saberia responder
Sabia que algumas sensações me inquietavam
Veio Hume e me respondeu a mim e a todos
Não posso acessar passado ou futuro
Essa inacessibilidade me bateu cara como única e pobre certeza de meus dias permeados de dúvidas
Só tenho presente
Agora é meu diamante bruto
Meu canal de acesso a mim e a mundo
Jazem para existência banalidades frívolas
Como açúcar em tempestade, certezas categóricas se diluíram Tão dolorosa tornou-se Razão, antiga amiga
Foste mísero, David, quebrando círculo de nossos puros vícios.