26 nov ANA VITÓRIA
Ana Vitória

Nome: Ana Vitória
Biografia:
Me chamo Ana Vitória Andrade de Matos, tenho 18 anos e nasci em Fortaleza. Sou feminista, leitora e amante das artes. Meu interesse por leitura e escrita surgiu quando eu ainda era criança, aos 6 anos. Aos 9, comecei a mostrar os poemas que escrevia e passei a ser premiada em concursos de poesia da escola onde estudei na minha infância. Nos meus 12 anos, já considerava a escrita como algo essencial em meus dias, levando esse exercício como algo leve e sério, um bonito paradoxo. Nessa mesma época, escrevi dois livretos de contos intitulados ‘’Pop e Eu’’ e ‘’ABC do Amor’’, editados e publicados pela escola onde estudava. Atualmente, público meus escritos no IG @divina.poetica.humana e no Blog Deleite em Linhas. Participo, também, de Saraus e clubes de leitura espalhados em Fortaleza. Com um livro pronto e outro quase finalizado, espero ansiosamente para lançar-me ao mundo.
Poesias
Fiquemos Vivas
Conta-me tua história
Teus medos e anseios
Fala das tuas inseguranças e aflições
Chega mais perto e encosta tua cabeça em meu ombro
Não há problema se pesar
Quero que seu coração fique leve
Usa a força das suas ancestrais para resgatar o que tiraram de ti
Continue presente para lutar ao meu lado
Quando você tropeçar, eu te ajudo a levantar
Lembre-se que você chegou até aqui apesar de o medo nos acompanhar todos os dias Lembre-se que ser mulher e continuar viva, já é uma vitória
Ao sair de casa, o medo de fazer parte das 13 mulheres que são vítimas de feminicídio todos os dias no Brasil
Nas ruas, os ouvidos doem com os comentários sujos e cruéis
As pernas tremem e o suor já não é mais provocado pelo calor da cidade O não, não foi respeitado e você teve dedos apertando com força os teus braços e machucando tua parte de dentro
Ao terminar um relacionamento
o medo de ser a próxima em um caixão
Mas estou aqui
Estamos aqui
E minha voz grita por todas nós
Minha voz grita por Marielle, por aquela que abortou e quase morreu, por aquela que quis ter filho e foi abandonada, aquela que sangrou em mãos impiedosas
Minha voz está presente por minha irmã Débora
estuprada aos 15 com uma arma na cabeça
Por Júlia
a prima que foi vítima de feminicídio aos 17
Por mamãe, que quando criança, correu aos prantos de um homem mal encarado Por Dandara, por aquela tia preta que perdeu o filho no meio do tiroteio pelas 13 que se juntarão às Deusas hoje
Por mim, por você, por todas nós que sofremos todos os dias nesse solo misógino Minha voz grita pelo gozo, pelo nosso direito de sentir prazer
Grita para que ana e maria possam andar de mãos dadas sem medo de voltarem com marcas para casa
Grita contra o inominável que odeia as mulheres e que brinca de governar o Brasil Nós queremos espaço, queremos mais literatura feminina
Queremos línguas soltas, cabelos ao vento e peitos livres
Nossa estrada é dolorosa e nossas chances são reduzidas
Carregamos, em um braço, o filho não assumido
E no outro, o sustento para a vida e para a alma
Nos querem mortas
Suamos para permanecermos vivas!
Ardenviência
Tudo em mim arde
Guardo em minhas células
Os cheiros que já experimentei
Está tudo armazenado
na imensidão do meu eu
Acumulo encalços que passam em minha vida
e esqueço de limpar o pó
Tudo em mim arde
me doo e permito doer
Caço emoções que me façam
pular nua nas águas frias
de uma praia adormecida
Minha alma urge
para passear no ranger de outros corpos
Tudo em mim arde
porque espero pelo toque
apenas depois de conversar sobre o que me toca
Porque minha fala
treme ao aproximar-se
de um espírito livre
Porque embriago-me
com a quentura alucinada
de uma língua solta
Ardo nos bares boêmios
segurando o vinho que te molha enquanto pecamos nas ruas isoladas
Tudo em mim arde por isso
há feridas
por dentro.
Águas de nós
Enquanto ouço teus
sussurros tentadores
Percorro lentamente
minha saliva audaz
em teu corpo enxuto
Tua feição, inerte
estaciona em uma dimensão
desconhecida entre os outros seres existentes
Súbito
sinto a falta de ar
e na ponta de um instante
devolvo-te à vida
Ao renascer
nossas bocas estão coladas
uma na outra
E o rio que causei
em teu corpo
acaba por transbordar
os gozos que tivemos
enquanto apagamos
na vastidão de todos os delírios.
Motivos
Porque eu tenho essa necessidade de expelir
Porque me acalenta ter a poesia como um gatilho
Porque eu posso atingir corações com livros
ao invés de armas
Porque carrego comigo o desejo de viver e fazer com que haja vida em um mundo adormecido
Porque a caneta será meu refúgio e os papéis
meus maiores confidentes
Porque melancolia é inerente a mim
e expulsá-la é ignorar a grandeza da minha resistência.
Morada em mim
Sou a casa que procuro quando quero abrigo
Sou do tamanho do que almejo
e tenho imensidões de desejo
Sou o remédio das minhas feridas
e cuido de minhas cicatrizes
Sou a personagem de um livro antigo
e incorporo na melodia de algum jazz
Minha boca é vermelha
e meu beijo tem gosto de vinho
Meus pés lutam contra o sistema
para que eles continuem firmes e presentes
E minhas mãos estão sempre abertas para amparar o oprimido
Em meus braços cabem vários corpos
e meus olhos estão sempre alerta
eles brilham e às vezes transformam-se em cachoeira
O meu suor advém de muita luta e prazer
O meu olfato suga com vigor os cheiros que desejo e preciso Sou minha
E convoco as deusas
Tenho curiosidade em conhecer
mas aprendi a pôr em prática o adeus
Sou forte e minhas mãos comprovam tal fato quanto te seguro em minha cama
Eu ilumino
a mim e aos outros
Sou a minha própria salvação
e jamais estarei em mãos sujas de sangue e opressão.