ALCIO CORDEIRO

Alcio Cordeiro

POESIA_DE_FORTALEZA-POETA- ALCIO CORDEIRO

Nome: Alcio Cordeiro 

Biografia:

Músico, desenhista ilustrador de livros e poeta caseiro. Nunca participou de festivais de poesia. Escreve letras de música (foi classificado em terceiro lugar no I Festival da Música de Fortaleza, no ano passado, 2018) e já trabalhou com textos de publicidade. Nasceu em Itapipoca, em 1961.

Poesias

ONDE MORA A POESIA

Acordo no meio da vida
segurando a tua mão
numa situação qualquer
perdida
num momento banal do dia-a-dia
entre as compras no mercado
descubro você comigo
aflita com a rotina
e as contas do fim de mês
num suspiro de ternura
te amo profundamente
por entre as mercadorias
cartazes de promoção
e de toda aquela gente
teu olhar é um lago aceso
onde pesquei um leve sorriso
eu não sei,
mas,
talvez,
aí mesmo,
no meio da correria
dos boletos e esquemas
planos
perdas e danos…
haja sonetos
nasçam poemas
quem sabe,
aí mesmo
é que more a poesia.

A TUA LEMBRANÇA

A tua lembrança é uma faca cravada no crânio
É um demônio rugindo no calabouço da minha historia
Memória em frangalhos
Atalho perdido
Gemido abafado
engaiolado
Calado
A tua lembrança
Dança entre as palavras
Entremeia o dia a dia
riacho entre as pedras
queda permanente
requebra na praia
Paira onipresente
Veio que não seca
Eterno estribilho
Cantiga de grilo
Apito de trem
saindo dos trilhos
Porta rachada
Que reivindica
e grita entre as trilhas
Herança maldita da paixão
Canção anônima
Imagem irrefletida
Ida sem retorno
Adorno fútil
Fogo inútil
espírito sem corpo
beco sem saída
a tua lembrança
ainda.

ERA TARDE
Era tarde
quando desapareci
lentamente
me despercebendo
nublando-me ao esmalte da noite
sumindo devagar
pouco a pouco
fade out…
até estabelecer-se-me um silêncio
sem embaraços
manso
covarde
era tarde quando estancou o último passo
tarde demais
noite adentro
madrugada afora
tão tarde era quase dia
e ao invés da fome
do cansaço
e da dor
era o calor que me enchia a alma
beirando o amanhecer
era eu de novo
me chegando
renascendo a esmo
por todos os lados
acontecendo
remoendo as lembranças
removendo tristezas
remontando esperanças
respirando
era eu de novo
vindo de todos os cantos
de lugares tantos
de tão longe
e há tanto tempo
que quase não me reconheço
a luz do riso
e o sal das lágrimas
era eu de novo
despindo o manto
inflando a pele
inflamando o sangue
preenchendo o corpo
a esperar por mim
perscrutando a vida
respirando um sopro de saudade abandonada
era eu ainda
apesar de toda a distância
a mesma pessoa retomando sua infância
retornando à consciência
eu ainda era a mesma criança
encontrando o fio da meada.